Acompanhe o último capítulo da análise de Clélia Paes sobre o filme “A cor púrpura”, de Alice Walker!
Parece-me que a outra questão relevante é nulidade de contato entre Emerenciana com a figura materna de qualquer ordem, ou seja, a personagem está totalmente despojada da figura materna e lançar-se em sua castrada vida em busca de uma identidade própria no nada, de um processo de uma época, em que a figura do pai exclui a relação funcional mãe-filha. Em linguagem freudiana, como houve um defeito nesse processo, é toda pulsão de morte, com a retirada do ciclo libidinal da cadeia simbólica.
Após as situações traumáticas absorvidas e uma conduta rotina de vida estabelecida, Emerenciana apresenta uma série distorções negativas de sua imagem corporal, porém, com a entrada de Dalva em sua vida, passa a perseguir, a todo custo, o que percebe como boa forma ou o padrão estético de admiração, motivada a buscar, acima de todas as coisas, um corpo mais bonito, a fim de cobrir um desequilíbrio narcisista.
Assim, Emerenciana fica à mercê dessa projeção devoradora, buscando um alento no objeto libidinal oferecido por Dalva, um controlador ante as suas angústias. Neste processo haverá fortes conflitos relacionados à identidade sexual e homossexualidade.
Em meu ponto de vista a histeria é o que mais se aproxima, pois predomina no universo feminino, tem o corpo como tema e começa na adolescência, também, são caracterizadas por repressão, restrição ou renúncia a desejos e prazeres básicos, havendo manipulação interpessoal, tentativa de atrair atenção dos demais através de sua própria enfermidade, descritas a seguir:
No caso de Emerenciana, suas atitudes submissas praticamente, sem fala, retardamento mental com manifestações infantis como o de colocar a língua para fora, e até pelo exagero da sua ausência de cuidados estéticos exacerbando por sua aparente feiura.
Apostando na plasticidade da histeria, que se moldaria de acordo com o contexto social, Emerenciana se identifica com a patologia, se autonomeando, como feia, e se perdendo no padecimento, a sua identidade, baseia-se em penitenciá-la pela imperfeição.
Os efeitos perniciosos à vida, advindos de suas práticas não causam preocupação a Emerenciana. E tal alienação permite relacionar tais transtornos com a histeria, principalmente através da presença da indiferença determinada em seus objetivos e cindida de seu corpo, não o reconhece perecendo, pois para ela tudo está tudo como sempre foi.
Encarar estes sintomas enquanto manifestações de cunho histérico, ou apenas lhes atribui um caráter traumático requer mais estudo, profundidade e análise, o que em uma história, isto nem sempre é possível. Vale lembrar que Freud, muitas vezes, vincula tais sintomas à neurose de angústia. Mas note-se que precisamente o trauma está entre as explicações de Freud para a origem da histeria.
Então deixo claro que apesar desta série ter trazido como base perspectivas derivadas do pensamento psicanalítico em torno da histeria, não restringem tais manifestações a uma estrutura específica.
Porém, mesmo considerando as diferentes formas de se encarar a histeria, foi possível identificar algumas semelhanças nas principais situações, mesmo que a maioria destes sintomas se apresenta em certo caráter silencioso.
Enfim, coube a Dalva, por meio da relação transferencial, criar elos entre significantes corporais e verbais que se encontravam desintegrados (cingidos). Com a elaboração dos vínculos restabelecidos Emerenciana pode trilhar caminhos mais saudáveis.
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*Clélia Paes tem mais de 25 anos na Área da Educação como Linguista, Pedagoga e Psicopedagoga. Agregou a Psicanalise a seu currículo com responsabilidade, ética e transparência!