“A bem da verdade, a dita maturidade não existe de um modo taxativo, pois carregamos conosco restos da nossa infância e adolescência pela vida afora. Esses restos, enquanto memórias não elaboradas, ainda falam em nós, produzem sintomas e estão na gênese dos desejos mais importantes. É na condição de passageiros clandestinos – que de tanto em tanto se organizam em motim e mudam o curso da embarcação – que a criança e o jovem que fomos viajam pela vida afora, ou seja, entranhados e escondidos num sujeito dito crescido e amadurecido.
A grande novidade da história de Peter Pan é compreender o crescimento como algo que depende do desejo da criança de permitir isso acontecer. As exigências sociais de estudar, namorar, trabalhar, casar e ter filhos, assim como o imperioso ritmo do corpo que impõe a maturação física, aqui de nada valeriam, diante do desejo da criança, que poderia suspender ou continuar o processo ao seu comando.”
(D.Corso/M.Corso)