24/08/2016
Emerenciana e Dalva. Inimigas?
Por Clélia Paes

Terceiro capítulo da análise de Clélia Paes sobre o filme “A cor púrpura”, de Alice Walker!

 

A relação de Emerenciana e Dalva, é linda, é engraçada, é doce, mas longe de ser perfeita como todas as demais relações de amor. É um lembrete claro de como o amor pode ser bagunçado, doloroso, confuso, ser quebrado e ter seus pedaços juntados e ainda assim persistir, porque num contexto tão cheio de ódio, preconceito e dificuldades, os únicos remédios para todos os males são a esperança e a fé, não apenas em Deus, mas na humanidade das pessoas.

 

Após a venda de Emerenciana, sua irmã Sofia foge de casa para livrar-se do pai que também tentou molestá-la sexualmente e vai ao encontro da irmã para com ela morar, porém, ao negar submissão aos caprichos sexuais de Augusto, marido de Emerenciana, Sofia dá adeus à sua irmã com a seguinte frase “somente a morte irá nos separar”.

 

Essa penosa e dramática situação cria histeria de fato, que se desenvolve em sintomas como a de tornar Emerenciana, cada vez mais submissa e invisível, calada, solitária e com traços evidentes de um retardamento mental, como o gesto de colocar a língua para fora frente algum desafeto, este traço é um dos mais significativos como representação do processo de retardamento, a exemplo de qualquer outra manifestação patológica física como atrofias e a sua própria frigidez.

 

Assim, cada vez mais, a violência consolida o trauma, causando mais submissão, o masoquismo, a incapacidade do ego de defender-se, o desamparo psíquico e a dor, que tende a transparecer através da inércia e a se repetir a partir da “vitimização”.

 

Emerenciana passa seus dias, agarrando-se à esperança de receber uma carta da irmã, única pessoa a lhe expressou afeto, dedicação, amor. Embora as contingências situacionais fossem tão adversas, este fator foi relevante, para de alguma forma mantê-la viva, nutrindo sempre a esperança de reencontrar sua irmã.

 

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*Clélia Paes tem mais de 25 anos na Área da Educação como Linguista, Pedagoga e Psicopedagoga. Agregou a Psicanalise a seu currículo com responsabilidade, ética e transparência!