15/08/2016
“Independente do que ocorra, estarei sempre por perto”   
Por Clélia Paes

Último capítulo da série exclusiva de Clélia Paes “Cazuza, o tempo não para” te levando ao mundo de um dos maiores gênios da música brasileira

 

Finalmente a notícia da AIDS assola o país e, sem ainda saber que estava contaminado, Cazuza reage, de forma paranoica e agressiva com todos que estavam em um restaurante como forma de um desabafo por mais um forte símbolo de repressão e castração.

 

Cazuza apesar de toda energia se sente doente, até então como possibilidade de uma forte gripe, busca o colo da mãe que o acolhe e questiona a sua falta de ânimo, percebendo que algo mais o abatia. Cazuza, desanimadamente, responde:

 

Cheguei onde queria, estou no topo do sucesso, aplauso e reconhecimento, “ o que vou querer depois”, “estou sempre querendo alguma coisa

 

Com este diálogo, evidencia-se alguém que sempre viveu em busca de objeto libidinal, totalmente sem limite.

 

Cazuza após se recuperar minimamente da doença e voltar dos Estados unidos, passa a viver de forma mais intensa e alucinante possível. Ao promover uma festa em sua casa, com muita bebida e droga, seu pai chega de repente e em uma atitude dilacerante e catártica, expulsa os seus amigos, em uma atitude insana.

 

Quando Cazuza questiona:

“Pai, você está maluco?” E, também, questiona o pai, o que sempre questionou durante toda a vida: o que você tem a haver com isso?

 

E o pai, agora, finalmente, exercendo a sua função psíquica, bate de frente com o filho, responde que sim! Que tem a ver com tudo aquilo, que tem haver pra cacete! E, também afirma, sim estou maluco! E o que é ser maluco? Perto de toda aquela insanidade coletiva que acabava de presenciar, terminando com a afirmação que aqueles seus amigos não prestavam.

 

Cazuza, rebate, dizendo ninguém presta! Nem eu, nem eles, nem você! Após esta frase de total lucidez há, finalmente, um abraço amoroso, aos prantos, entre pai e filho, em um ato de humanização e cura.

 

Em um dos seus últimos dias, Cazuza olha pro espelho despojado de toda vaidade que o acompanhou e novamente numa conversa com o seu pai, refletem sob a luz de uma consciência ímpar, valores intrínsecos na identidade de ambos e com a mãe por coincidência cantam uma música de uma volta ao jardim, que poderia representar o útero, onde não há palavras, apenas sensações e toques: “e quem sabe sonhava os meus sonhos, por fim…”

 

Em uma das suas últimas falas, Cazuza reforça a sua ligação maternal, demostrando que na questão edipiana não houve tempo hábil para sua cura.

 

Independente do que ocorra, estarei sempre por perto”.

 

  • Perdeu o primeiro capítulo da série “Cazuza, o tempo não para”? Clique aqui e confira!
  • Perdeu o segundo capítulo da série “Cazuza, o tempo não para”? Clique aqui e confira!
  • Perdeu o terceiro capítulo da série “Cazuza, o tempo não para”? Clique aqui e confira!
  • Perdeu o quarto capítulo da série “Cazuza, o tempo não para”? Clique aqui e confira!
  • Perdeu o quinto capítulo da série “Cazuza, o tempo não para”? Clique aqui e confira!
  • Perdeu o sexto capítulo da série “Cazuza, o tempo não para”? Clique aqui e confira!
  • Perdeu o sétimo capítulo da série “Cazuza, o tempo não para”? Clique aqui e confira!

 

Análise das principais músicas de Cazuza 

1° “O amor é o ridículo da vida…” – Neste poema Cazuza expressa sua busca eterna por um objeto libidinal.

“O amor é o ridículo da vida, uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo e indo embora, a vida veio e me levou com ela, sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraíso, que nos persegue, bonita e breve como borboletas que só vivem 24 horas, morrer não dói”

 

Carta Dani – Neste poema Cazuza expressa sua melancolia.  

Escrevo numa tarde cinzenta e fria

Trabalho pra espantar a solidão e meus pensamentos

Hoje assumi em público minha doença

Estou mais leve, mais livre

Mais ainda tenho muitos medos

Medo de voar, de amar

Medo de morrer, de ser feliz

Medo de fazer análise e perder inspiração

Ganho dinheiro cantando minhas desgraças

Comprar uma fazenda, fazer filhos

Talvez seja uma maneira de ficar pra sempre na terra

Porque discos arranham e quebram

Amor

 

ExageradoNesta letra, apesar de muitas interpretações, para mim, fica perfeito observá-la como uma verdadeira declaração de amor edipiano. Onde na primeira estrofe fica claro que o “Amor de sua vida é a própria mãe”.

Amor da minha vida

Daqui até a eternidade

Nossos destinos

Foram traçados

Na maternidade…

 

Paixão cruel

Desenfreada

Te trago mil

Rosas roubadas

Pra desculpar

Minhas mentiras

Minhas mancadas…

 

Exagerado!

Jogado aos teus pés

Eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado…

 

 

 

*Clélia Paes tem mais de 25 anos na Área da Educação como Linguista, Pedagoga e Psicopedagoga. Agregou a Psicanalise a seu currículo com responsabilidade, ética e transparência!