27/07/2016
Meu Rei, Minha Rainha
Por Clélia Paes

Terceiro capítulo da série exclusiva de Clélia Paes “Cazuza, o tempo não para” te levará ao mundo de um dos maiores gênios da música brasileira

 

A relação com os seus pais não segue diferente, tudo é motivo de deboche, quando eles vão buscá-lo na delegacia, o filho se refere aos pais, ironicamente como Meu Rei, Minha Rainha.

 

A mãe, por sua vez, cobra de seu pai com a expressão: “Tá vendo no que dá passar tanto tempo fora de casa”. Este pai biológico, João, é um mero sustentador das necessidades de Cazuza, é assim que ele enxerga seu pai, somente um provedor, percebemos tal fato em expressões como esta: ”Não se esqueça de pôr gasolina”.

 

Seu pai simboliza tudo o que ele despreza, inclusive, para ele representa a morte, e os seus amigos, neste momento, representam todo prazer, a vida. Por sua ótica, somente os amigos o fazem se sentir vivo, o pai, até este momento, não simboliza proteção.

 

Cazuza continua desafiando a morte e rechaça qualquer coisa que possa ser padronizada, achando brega até o pôr do sol.

 

Num momento de tentativa de dissolução do complexo de édipo, Cazuza externa a necessidade de se libertar da mãe, e afirma a dificuldade deste ato. Interessante observar que, concomitante, com esta fala, ele busca uma conquista amorosa com uma pessoa do mesmo sexo.

 

“Toda mãe tem que parir duas vezes, uma quando nasce e outra quando cresce, e a segunda é mais difícil. E sua amiga pergunta: mais difícil para quem? Ele responde: para todos nós. ”

 

Ele se reconhecia como fazendo parte de uma tribo, a tribo do abraço, andava em bando, não sabia viver sozinho…

 

Sempre com relação a mãe havia um sentimento de controle e repressão:

– “Mãe é foda, ela lá e eu aqui. ”

 

Como solução para fugir do seu vazio, angustia e melancolia, paradoxalmente, ele tinha forte presença, postura, sabia o que queria e demonstrava atitude.

 

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Na foto, à dir. e à esq., Cazuza ao lado de Lucinha, em 1982; ao centro, mãe e filho nos EUA em 1987 – Arquivo Pessoal

 

*Clélia Paes tem mais de 25 anos na Área da Educação como Linguista, Pedagoga e Psicopedagoga. Agregou a Psicanalise a seu currículo com responsabilidade, ética e transparência!